sábado, 31 de março de 2012

A alegria e a dor

“O que esperais, meus bem-amados, uma vida sem sofrimento?” é a pergunta que Catherine dirige aos seus filhos espirituais em uma das suas muitíssimas cartas “circulares”. A mesma pergunta poderia, sem dúvida, ser dirigida a cada um de nós, afinal, somos os filhos de uma época que detesta tudo o que é relacionado com a dor, com o sofrimento, com o desgosto.
De certo modo, temos que compreender nosso tempo, olhá-lo com carinho. É compreensível que as pessoas de hoje (como as de ontem) queiram fugir do sofrimento, é um movimento natural, quase uma reação involuntária. O problema do nosso tempo não reside em querer fugir do sofrimento, mas na ilusão – inédita na história da humanidade – de que tal fuga seja possível.
Os Homens de ontem fugiam da dor como nós hoje o fazemos, mas eles, muito mais realisticamente que nós, sabiam muito bem que fugir de toda e qualquer dor é impossível para a natureza humana. Somos por natureza chamados ao infinito, à plena realização, à felicidade, mas porque nossa natureza é manchada pelo pecado, nossas forças – já naturalmente limitadas – encontram-se obscurecidas e confusas.
Nós, Homens de hoje, somos tão limitados quanto eles, Homens de ontem. Nós, diferente deles, somos incrivelmente mais ingênuos, parece que já não reconhecemos nossos limites, não queremos aceitar nossa condição. Não somos perfeitos, mas agimos como se fôssemos. Não aceitamos a dor, o sofrimento, a morte, porque são, talvez, as últimas realidades que teimam em nos recordar esta triste verdade: não somos deuses!
Deus não criou a dor, nem o sofrimento, nem mesmo a morte. Fomos criados limitados, é claro, mas com uma natural vocação à imortalidade, à plena auto-realização, a uma vida ilimitada. Deus, apesar de todos os nossos pecados, não desistiu do Seu plano divino, e usa até dos frutos da nossa desobediência para nos levar ao cumprimento deste plano de amor: em Deus o nosso sofrimento adquire valor salvífico!
Saber sofrer, aprender com o sofrimento, crescer com ele. Ter a morte diante dos olhos para melhor viver. Saber que a dor é capaz de transformar-se em alegria se é vivida em espírito de humildade. Para os humildes, a dor recorda quem somos: pequenos, dependentes, limitados... filhos do Pai que, exatamente por sermos pequenos e limitados, nos leva ao colo e nos transmite toda a sua alegria divina.
Qual o pai, que vendo o filho chorar, não o consola?

“Que espécie de cristão seria você se não houvesse dor em sua vida? Espere por ela, portanto, e dê-lhe boas-vindas, porque a dor é como um fogo enviado por Deus para purificar sua alma, seu coração e sua mente. Por causa dela você deixará de ser egocêntrico e poderá ir ao encontro de todos os seus irmãos e irmãs (...) Mas aonde leva esse sofrimento? Ele certamente não leva à depressão. Não. Ele conduz à alegria, ao amor e à fé. A dor é o cálice do amor.”
Catherine de Hueck Doherty
(Em “Evangelho sem restrições”- Título original: The Gospel without Compromise)

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